junho 23, 2012

Relato de uma chuva.

     Lágrimas escorrem sobre a face da garota. O dia anoiteceu e não se viu o crepúsculo. A felicidade vai se esvaindo visivelmente. A dor a incomoda, a pune, a apedreja, a penitencia.
     Olha para mim com a boca. Seus olhos já não se apresentam orbitados na nossa órbita. A sua essência já não jaz; o seu brilho, desalumiado está.
     Pergunto se está bem. Ela não responde, não esboça nenhuma feição, nem um singelo sorriso.
     Agora chove. Será esta uma tristeza tão intensa que até as nuvens choram? Serão elas tão amigas que não querem mostrar o quanto a garota é frágil? Não se sabe mais o que é lágrima ou o que é água.
     Não me sinto bem em ficar vendo ela encarar-me com todos os outros sentidos e não com a visão. Sinto vontade de dar toda a minha alegria, ou pelo menos a minha paz, para ela. Chego mais perto e sussurro:
     -Você quer a minha alegria?
     Ela simplesmente me abraça e põe a cabeça contra o meu peito, acenando positivamente com ela. Continua a chorar. Dou uma pequena risada e logo a tristeza me invade de vez.





                                                                                        Eduardo Mulato do Vale

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