maio 19, 2012

SESSÃO MANIFESTO: Limites

            A única coisa que vejo são limites.
            Limites para amar, limites para abraçar, para demonstrações de afeto, limites para viver.
            Viver sob a forma de um "limite" me faz indagar sobre até que ponto ele vai.
            Será que é até a morte? Óbvio que sim. O meu limite, no entanto, resume-se a um dia, a um momento, a um luto.
            Vejo pessoas por todos os lados. Olham-me como se fosse eu a pessoa que havia perdido a vida( como se eu precisasse delas para ser limitado). Parte do meu limite se foi.
            E agora? Estou metade livre ou metade mais preso? Vejo pessoas levando uma vida sem tentar desvendar a incógnita que ela é, sem tentar compreendê-la. Essas pessoas, sim, estão presas aos seus pés, a sua alma, ao seu subconsciente.
            Sinto os olhares pesarem mais sobre o meu dorso. Ouço cochichos que mais parecem xingamentos direcionados para o meu egocentrismo e para o meu egoísmo. Luto contra tais sentimentos que trazem à tona mais tristeza, mais mágoas e mais limites.
            Volto a repetir que isso é um mal de um mundo medíocre, um mal abstrato que nos faz indagar sobre o por quê de ser feliz, se a tristeza vem logo em seguida.Ela pode tardar, mas nunca falhar.


                                                                         Eduardo Mulato do Vale

maio 06, 2012

Tempos

Ando, já não sei por onde.
Olho, já não sei para o quê.
Rindo, já não sei se ando.
Vivo, já não sei em que tempo.

Anos plúmbeos ainda são de chumbo.
Anos dourados, já não são dourados.
A Belle Epóque, já não é tão bela.
O preto e o branco já não estão na tela.

Dizem que vivemos em anos a cores.
Dizem que vivemos sob mantos limpos.
Dizem que vivemos em dias plácidos.
Embora só o que vejo são olhares opacos.

Olhares trôpegos, o bêbo têm.
A mente firme, os loucos também tem.
De pudor formado, a puta ainda jaz.
Com dignidade, José já não faz.

Nesse tempo em que Chico vive,
Se ele é mesmo filho da outra,
Sem vergonha atrás não vai,
Daquela porca que nunca soube andar, Pai!

Se você sonha com dias melhores,
Nesses tempos não irão existir.
Se queres saber para onde fugir,
Desça sete palmos para com os vermes co-existir.

Anos de chumbo, já não são mais impar
Anos dourados, enterrando-se estão.
A sua Belle Epóque se esconde no vão.
Pelo preto, domados estamos.

Assim termino uma construção
Cujas cores a revesti-la estão,
Cujas cores a ocultar estar,
O negro escondido sob esses "tempos"
Esses vulgos "tempos celestes".



                                                                                                     Eduardo Mulato do Vale