novembro 02, 2012

Reflexo.


Sou o reflexo de nós.
Sou o reflexo de suas ações.
Machuca-me, logo sofro.
Alegra-me, logo sorrio.
Sou a adaptação de nós.
A seleção que nunca existiu.
O momento inexplicável que sempre presenciamos.
O possível do impossível.
A continuação do fim.
O sentimento mais oculto.
O segredo mais público.

Tenho você ao meu lado,
Mas você nunca me viu.
Não sei quem eu sou pra mim.
Não sei o que você é pra si.
Não sou a perfeição que você almeja.
Sou o que sou, e apenas isso.
Sou o que você mais detesta amando.
Assim como você também é para mim.
Meus dias ao seu lado podem acabar.
Meus sentidos, um dia, podem desvanecer-se.
O futuro pode virar passado.
Mas o que ficou no presente, continua no presente.

Ações resumem-se a nada.
Olhares respondem em silêncio o que o coração sempre tentou perguntar.
Lágrimas sintetizam o mais puro e lindo dos sentimentos.
Não há lágrima mais triste do que a derramada pela alma.
O vazio que me enche, fico sem entender.
Sinto sua falta.
Quero cuidar de ti.
Quero ser cuidado.
Como posso ser seu anjo, se nem ao menos a tenho por perto?
O amanhã pode ser hoje.
O hoje pode ser o nunca.
As minhas asas dão voltas ao redor do mundo... O mundo dá voltas.
Os reflexos diminuem e ponto.
Os sentimentos também.
Let it be...

junho 26, 2012

23:00

Compreenda...

Eu compreendo.

Me escute...

Eu te escuto.

Desista de mim!

Não. Eu não desistirei de você.

Por que?

Porque amar é assim.
Porque cansei de fugir.
O ciclo cicla o círculo do sofrimento
Cansei de ser vítima de mentiras.
Cansei de ser mentir as tuas mentiras.
Cansei de enxergar o que tu não enxergas.
Cansei de me cegar pelo teu momento.
Cansei de escutar o teu lamento.

Me ouça!
Não lamento o momento do seu sofrimento.
Lamento não querer sofrer desse seu momento.
Você é uma boa pessoa e eu também quero ser.
Ser fraca, já não quero ser.
Não sei para onde fugir, nem como crescer.
Quero a maturidade mais madura.
Sei que a rapadura é chamada assim porque é dura.
A dureza e a fraqueza não são sinônimos.
Tampouco quero que nossos sentimentos sejam antônimos.
Quero viver uma vida sem cutucar aquela velha ferida.
Quero um dia depois de amanha e pronto.

Lamento dizer que lamento ouvir as palavras ditas.
Lamento também as nossas ligações rompidas.
Nossos momentos não surgiram para serem apenas momentos.
Prometi a mim mesmo que momentos são para serem vividos.
Prometi não desistir de ti nem com um milhão de pedidos.
Prometi que iria lhe mostrar/falar o lado bom da vida.
Não esqueça que a vida nasceu para ser vivida.
Cautelas e mais cautelas só vão lhe trazer sequelas.
Você é capaz de amar de novo.
E eu, de novo, quero amar.
O meu futuro é incerto.
O seu futuro é incerto.
Mas estou certo de uma certeza:
Amanhã quero estar contigo,
E no dia depois de amanhã quero que você esteja comigo,
Sem medo, sem terror.

Mas eu ainda tenho medo...

Medo também tenho.
Tenho medo de ter medo de estar errado.
Sei que não estou.
Sei que ainda há tempo para voltar atrás do pedido,
Não acha?

Não sei. Talvez. Quem sabe?

Tudo bem, então. Te espero às 23:00.



                                                                                         Eduardo Mulato do Vale

junho 24, 2012

Café com Açúcar

Depositado em uma xícara,
O negro vem derramado,
O amargo, manifestado;
O cheiro, atiçado.

Adocicado em uma xícara,
O negro contrasta com o branco;
O negro escurece o branco;
O branco some com o negro.

Melado em uma xícara,
A mancha mancha a vida.
A mancha mancha a história.
A mancha mancha...


                                                                                      Eduardo Mulato

junho 23, 2012

Relato de uma chuva.

     Lágrimas escorrem sobre a face da garota. O dia anoiteceu e não se viu o crepúsculo. A felicidade vai se esvaindo visivelmente. A dor a incomoda, a pune, a apedreja, a penitencia.
     Olha para mim com a boca. Seus olhos já não se apresentam orbitados na nossa órbita. A sua essência já não jaz; o seu brilho, desalumiado está.
     Pergunto se está bem. Ela não responde, não esboça nenhuma feição, nem um singelo sorriso.
     Agora chove. Será esta uma tristeza tão intensa que até as nuvens choram? Serão elas tão amigas que não querem mostrar o quanto a garota é frágil? Não se sabe mais o que é lágrima ou o que é água.
     Não me sinto bem em ficar vendo ela encarar-me com todos os outros sentidos e não com a visão. Sinto vontade de dar toda a minha alegria, ou pelo menos a minha paz, para ela. Chego mais perto e sussurro:
     -Você quer a minha alegria?
     Ela simplesmente me abraça e põe a cabeça contra o meu peito, acenando positivamente com ela. Continua a chorar. Dou uma pequena risada e logo a tristeza me invade de vez.





                                                                                        Eduardo Mulato do Vale

junho 21, 2012

Angústia

     Luz apaga... Luz acende... Luz apaga... Luz acende... Há momentos que acho o fato de existir uma verdadeira perda de tempo. Momentos que foram singulares por no máximo cinco minutos, ainda com um espírito otimista, assumo que, hoje, os visualizo e percebo que não passam de tempos efêmeros, que trouxeram micelas de felicidade. Apenas micelas.
     Caso tentasse caminhar por uma rua, sentiria a vulgaridade dos meus passos e a futilidade dos meus pensamentos. Caso tentasse sentar no meio-fio de uma calçada e encostar a cabeça em um poste de luz fétido, odorizado por urina de humanos e de bichos, logo tentaria esvaziar a mente, pensar no branco, sem necessitar acionar a minhas psicoses. Nada consigo. Minhas pernas não andaram pela calçada, rastejaram-se. Não esvaziei a mente ao encostar em um poste, inundei-me em medos e angústias.
      Vivo por opção. Vivo por quererem que eu viva. Lembro-me da pressão exercida pelas dentes de serrar de uma faca sobre o meu pulso. No momento, tudo era negro, insosso, descabível de significações. No entanto, senti pela primeira vez minhas angústias se misturarem a minha paz.
      Dou gargalhadas como dei naquela época. Olho para um lado e para o outro. Ouço sussurros incessáveis. Sinto que está piorando. Tudo! Saia desse ser... Saia de si... Saia desse ser... Saia de si.
      A luz acendeu. A luz apagou. A luz desalumiou-se...



                                                   Eduardo Mulato do Vale

junho 02, 2012

Sinfonia



Aperte o "play" e leia junto com a música.


A leveza de uma sinfonia, a placidez de um rosto, a sutileza de uma mulher... Isso me apaixona.
Posso viver em um tempo diferente, em um momento diferente, mas vivo com a certeza do meu significado. Não adianta desafiar a realidade.
Caminho sob a chuva, passo por luminárias belle epoquianas, por bancos simples de madeira encharcada, e ainda ouço a sinfonia. Meu andar são palpitações. Olho-te como se fosse um sonho.
Beijo-te. Sou imortal. Esfacelo-me... Dissolvo-me. Lábios açucarados, pele feita da mais nobre seda, olhos que me tiram cada segundo dessa vida mortal e imortal, momentaneamente.
Ah... O prazer da imortalidade. Ah... O prazer em conhecer-te. Conhece-me? Escute a sinfonia, sinta a leveza. Dance. Mexa-se com a leveza que tu tens. Feche seus olhos e apenas sinta o quanto você pode não ser você.
A música pode acabar. A minha imortalidade pode acabar. O sentimento transformar-se-á; a criatividade, encerrará; e o momento, eterno será.




                                                   Eduardo Mulato do Vale

maio 19, 2012

SESSÃO MANIFESTO: Limites

            A única coisa que vejo são limites.
            Limites para amar, limites para abraçar, para demonstrações de afeto, limites para viver.
            Viver sob a forma de um "limite" me faz indagar sobre até que ponto ele vai.
            Será que é até a morte? Óbvio que sim. O meu limite, no entanto, resume-se a um dia, a um momento, a um luto.
            Vejo pessoas por todos os lados. Olham-me como se fosse eu a pessoa que havia perdido a vida( como se eu precisasse delas para ser limitado). Parte do meu limite se foi.
            E agora? Estou metade livre ou metade mais preso? Vejo pessoas levando uma vida sem tentar desvendar a incógnita que ela é, sem tentar compreendê-la. Essas pessoas, sim, estão presas aos seus pés, a sua alma, ao seu subconsciente.
            Sinto os olhares pesarem mais sobre o meu dorso. Ouço cochichos que mais parecem xingamentos direcionados para o meu egocentrismo e para o meu egoísmo. Luto contra tais sentimentos que trazem à tona mais tristeza, mais mágoas e mais limites.
            Volto a repetir que isso é um mal de um mundo medíocre, um mal abstrato que nos faz indagar sobre o por quê de ser feliz, se a tristeza vem logo em seguida.Ela pode tardar, mas nunca falhar.


                                                                         Eduardo Mulato do Vale

maio 06, 2012

Tempos

Ando, já não sei por onde.
Olho, já não sei para o quê.
Rindo, já não sei se ando.
Vivo, já não sei em que tempo.

Anos plúmbeos ainda são de chumbo.
Anos dourados, já não são dourados.
A Belle Epóque, já não é tão bela.
O preto e o branco já não estão na tela.

Dizem que vivemos em anos a cores.
Dizem que vivemos sob mantos limpos.
Dizem que vivemos em dias plácidos.
Embora só o que vejo são olhares opacos.

Olhares trôpegos, o bêbo têm.
A mente firme, os loucos também tem.
De pudor formado, a puta ainda jaz.
Com dignidade, José já não faz.

Nesse tempo em que Chico vive,
Se ele é mesmo filho da outra,
Sem vergonha atrás não vai,
Daquela porca que nunca soube andar, Pai!

Se você sonha com dias melhores,
Nesses tempos não irão existir.
Se queres saber para onde fugir,
Desça sete palmos para com os vermes co-existir.

Anos de chumbo, já não são mais impar
Anos dourados, enterrando-se estão.
A sua Belle Epóque se esconde no vão.
Pelo preto, domados estamos.

Assim termino uma construção
Cujas cores a revesti-la estão,
Cujas cores a ocultar estar,
O negro escondido sob esses "tempos"
Esses vulgos "tempos celestes".



                                                                                                     Eduardo Mulato do Vale