Galera, esse texto é bastante especial pelo fato do reconhecimento que obtive com minhas crônicas, o que me fez aumentar o instigar de escrever. Leiam e curtam(se quiserem).
Abraços
Vejo João Miguel a sofrer. Sofrimentos que trazem à tona o conflito interno por que ele passa. Monólogos, com certeza, são constantes. Apresenta um olhar intrigante, meio sofrido, meio misterioso. Não é um mistério comum, é como se fosse o infinito dentro de outro infinito. Complexo, não acha?
Sou apenas o carcereiro do presídio onde João está. Paro alguns minutos e fico a visualizar seus conflitos. O que será que está passando pela sua cabeça agora? Será que pensa o quanto é injusta a justiça, que funciona bem para os ricos e de maneira eficiente e, quem sabe, tardia para os pobres?
João Miguel ainda tem sorte de receber visitas de vez em quando. Há outros que foram esquecidos até por Deus. Esses, com certeza, estão arruinados. Injustiça dentro da justiça. É contraditório, mas é a realidade, nada de surrealismo nessa prisão.
Continuo a ver João. Apresenta-se inquieto, inquestionável, sorrateiro. Desliza-se entre a loucura e a consciência. Infeliz. Preconceitos serão obtidos no fim de tudo, no fim de sua vida medíocre. Esse é um mal abstrato de um mundo concreto, onde os presidiários, com João Miguel, tendem a lutar contra a sociedade, que se baseia em um senso comum medíocre, e contra uma psicose oculta.
Fico a esperar o quanto ele aguentará neste local. Junto à espera, há sempre uma resposta. Às vezes, não aceita por nós, mas correta.
Quem me dera poder dar condições melhores a presos como João, que vivem entre paredes mofadas, de celas lotadas, com descasos políticos e sociais. Quem me dera que esse mundo se tornasse humano, e não racista.
João acaba de reparar a minha presença ao seu lado. É melhor sair devagarzinho antes que o doutor Delegado me pegue fora do serviço.
Com um olhar, dou meu “Até mais, grande João Miguel”.